Sem medo de olhar para trás (Divulgação)
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Trinta anos na balança 35p1y
Publicado em 15 de fevereiro de 2025 Por Jornal Do Dia Se 593464
Rian Santos
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O tempo a, empenhado em pintar de branco o cabelo dos homens, determinado a arruinar com paciência e umidade todas as paredes, só para evocar aqui um verso de Drummond. Sim, o tempo a, obstinado. Feliz de quem, após trabalhar com igual afinco, não teme olhar para trás.
O artista Fabio Sampaio é destes. Destemido, ele investiu todo o quinhão de sensibilidade que lhe cabia numa pequena chance de criar uma linguagem visual. Apostou alto, todo o seu talento, a própria vida. E não poderia ter sido mais feliz.
Em seu trabalho, aliás, o pulso do tempo e os rangidos do mundo inteiro se adequam ao espaço supra-sensível de uma tela.
Fábio Sampaio foi o primeiro artista visual a me convidar à metonímia do drama contemporâneo. A parte pelo todo. O plug que é pura eletricidade. Na coleção de signos amontoados pelo inventário iconográfico do artista, as implicações destes na vivência dos que tropeçam às cegas, alheios ao papel desempenhado no cortejo irrefletido da experiência urbana saltam à vista.
Sempre de olho na timeline, Fábio se antecipa ao consenso em construção e materializa a intenção coletiva em forma de argumento. Seja por meio dos curativos pregados à ideia, band-aids sobre a ferrugem que corrói a memória do lugar; seja na circunferência íntima dos vínculos afetivos, alusões e referências capturadas no lodo do próprio umbigo. Há sempre, em seu trabalho, um comentário sobre as questões em pauta na ordem do dia.
Uma porção de adjetivos fáceis reclamam parte na definição. Nenhum dá conta. Importa ressaltar, no entanto, a dimensão humana do enunciado. É no proveito subjetivo que as sinapses propostas pelo artista ganham justificativa. Falo por mim, ao menos. A tela assinada por Fábio Sampaio na parede de minha sala sublinha, feito lembrete: O instante é agora.
Mutatis Mutandis. Não ira, portanto, que o artista siga inventando moda, criando caso, projetando o seu trabalho, like a rolling stone. Em cada nova mostra, um novo tempo presente.