Perspectiva do Comércio Global 5i6y1m

* Saumíneo Nascimento

A Organização Mundial do Comércio (OMC), fez uma rodada de previsões de comércio global, as quais buscarei reproduzir neste breve ensaio.
De acordo com a OMC, o volume do comércio mundial de mercadorias deverá cair 0,2% em 2025, considerando-se o atual cenário geopolítico do comércio exterior, quase três pontos percentuais abaixo do que seria esperado em um cenário de referência de “tarifa baixa”, de acordo com o último relatório Global Trade Outlook and Statistics do Secretariado da OMC, divulgado em 16 de abril de 2025. Conforme a entidade internacional, este relatório se baseia na situação tarifária em 14 de abril de 2025. Assim, o comércio poderá encolher ainda mais, para -1,5% em 2025, caso a situação se deteriore.
A OMC pontua que o comércio de serviços, embora não esteja diretamente sujeito a tarifas, também deverá ser afetado negativamente, com o volume global de comércio de serviços comerciais agora previsto para crescer 4,0%, mais lento do que o esperado.
No início do ano, o Secretariado da OMC previa uma expansão contínua do comércio mundial em 2025 e 2026, com o comércio de mercadorias crescendo em linha com o PIB mundial e o comércio de serviços aumentando em um ritmo mais acelerado. No entanto, o grande número de novas tarifas introduzidas desde janeiro levou os economistas da OMC a reavaliar a situação comercial, resultando em um rebaixamento substancial de sua previsão para o comércio de mercadorias e uma redução menor em sua perspectiva para o comércio de serviços.
Cabe registrar que o relatório “Global Trade Outlook and Statistics” da OMC apresenta as previsões do Secretariado da OMC para o comércio mundial em 2025 e 2026. São fornecidas análises do comércio de mercadorias e serviços comerciais por setor e região, juntamente com detalhes sobre os principais comerciantes. O fato é que persistem riscos para a previsão do comércio de mercadorias, particularmente devido à reativação das “tarifas recíprocas” suspensas pelos Estados Unidos, bem como à disseminação da incerteza na política comercial, que pode impactar as relações comerciais fora dos EUA. A previsão é que se concretizadas, as tarifas recíprocas reduziriam o crescimento do volume do comércio global de mercadorias em 0,6 ponto percentual em 2025, enquanto a disseminação da incerteza na política comercial poderia reduzir outros 0,8 ponto percentual. Juntos, as tarifas recíprocas e a disseminação da incerteza na política comercial levariam a um declínio de 1,5% no comércio mundial de mercadorias em 2025. Registre-se que os riscos para o comércio de serviços relacionados à escalada das tensões comerciais não estão atualmente incluídos na previsão.
A previsão mais recente da OMC marca uma reversão em relação a 2024, quando o volume do comércio mundial de mercadorias cresceu 2,9%, enquanto o PIB expandiu 2,8%, tornando 2024 o primeiro ano desde 2017 (excluindo a recuperação da pandemia da COVID-19) em que o comércio de mercadorias cresceu mais rápido do que a produção. Em 2025, espera-se que o impacto das recentes medidas tarifárias sobre o comércio de mercadorias seja bastante diferente entre as regiões.
Para a OMC, no cenário político atual, espera-se que a América do Norte veja um declínio de 12,6% nas exportações e uma queda de 9,6% nas importações em 2025. O desempenho da região subtrairia 1,7 ponto percentual do crescimento do comércio mundial de mercadorias em 2025, tornando o número geral negativo. A Ásia deverá registrar um crescimento modesto tanto nas exportações quanto nas importações este ano (1,6% para ambas), juntamente com a Europa (crescimento de 1,0% nas exportações, crescimento de 1,9% nas importações). As contribuições de ambas as regiões para o crescimento do comércio mundial permaneceriam positivas sob as políticas atuais, embora menores do que no cenário base de tarifas baixas. A contribuição coletiva para o crescimento do comércio mundial de outras regiões também permaneceria positiva, em parte devido à sua importância como produtoras de produtos energéticos, cuja demanda tende a ser estável ao longo do ciclo econômico global.
Segundo a OMC, a expectativa é que a interrupção do comércio entre os EUA e a China desencadeie um desvio significativo de comércio, gerando preocupações entre terceiros mercados quanto ao aumento da concorrência da China. Assim, as exportações de mercadorias chinesas devem aumentar de 4% a 9% em todas as regiões fora da América do Norte, à medida que o comércio é redirecionado. Ao mesmo tempo, espera-se que as importações dos EUA da China caiam drasticamente em setores como têxteis, vestuário e equipamentos elétricos, criando novas oportunidades de exportação para outros fornecedores capazes de preencher a lacuna. Ou seja, teremos uma reconfiguração nos mapas de importações e exportações dos países.