Darwin era um progressista (Divulgação)
**PUBLICIDADE f4t60
Mãe é mãe s1d5k
Publicado em 10 de maio de 2025 Por Jornal Do Dia Se 49676m
Rian Santos
.
Duas vezes pai, finalmente ito: mãe é mãe. Longe de mim, acrescentar novas vírgulas à romantização da maternidade, fazer coro ao trololó de inspiração namastê e oferecer oferendas ao sagrado feminino. Falo de transpiração, olheiras, tetas feridas, cheias de leite… Trocar uma fralda, eventualmente, como fazem os pais mais dedicados, é o de menos.
Recém-nascidos choram, dependentes em tudo, reclamam providências. Choram até ficar vermelhos e fazer o coração da mãe em pedaços. Choram porque o parto leva uma vida inteira, desde o primeiro berro até o último vento frio. Bebês choram certos de contar com o colo e o calor da mãe.
Antecipo o tema, eu sei. Aqui entre nós, o Dia das Mães é comemorado no segundo domingo de maio, uma data explorada à exaustão pelos comerciantes, em conluio com sujeitos de consciência pesada. Uma vez por ano, o filho ingrato renuncia às conveniências do conforto mais egoísta e faz de tudo para ludibriar a si mesmo e aquela a quem deve a própria vida. Os restaurantes, as floriculturas faturam alto. Homens de meia idade livram-se de toda a culpa, adormecem tranquilos.
Segundo um antigo compositor baiano, pai e mãe é ouro de mina. Há controvérsia. Sim, a paternidade distante de gerações adas já não é aceita ou considerada aceitável, aqui e agora. O macho provedor de outrora lava, a, cozinha. Entre a disposição imposta pelas convenções sociais e as exigências vitais da biologia, entretanto, há um abismo imenso (com pleonasmo, redundância e tudo). Darwin talvez não soubesse, mas era um progressista.
Somente a mãe pode dizer carne de minha carne, sangue de meu sangue, com toda a sinceridade. Só ela, entre todos os homens e mulheres do mundo, deu tudo de si, a fim de gerar, como um bicho. Leoa. Sem privilégio de juba. Coroada em sacrifício.